Neste blog compartilho passos em uma viagem. É uma maneira de você vir comigo. Você aproveita um pouquinho e eu me sinto acompanhando nessa peregrinação 'solo' por Munique, Praga, Leipzig e Berlim entre 15/12/11 e 01/01/12.
Por ser o relato de uma experiência de viagem, este blog tem um começo, meio e fim; não é daqueles que são atualizados periodicamente. Recomendo que você comece a lê-lo da primeira postagem. Vá ao painel à direita e comece sua leitura pela postagem mais antiga, prosseguindo cronologicamente.
Cheguei por volta das 13h e notei que a Hauptbahnhof (a Estação Central) de Munique tinha se tornado familiar. A melhor coisa que fiz foi ter reservado um hotel para o último dia. Privacidade e um pouquinho mais de conforto vieram bem nesse fim de viagem! Outra coisa excelente foi ter achado um lugar com ótimo preço bem perto da estação de trem; dica excelente para os que planejam fazer uma loucura semelhante à minha. Deixei as malas no hotel e fui rapidamente atrás dos últimos souvenirs. No serviço de informação turística, a terrível constatação do que eu já suspeitava: Quase todas as lojas já estavam fechadas! Mas consegui achar uma aberta na própria Hauptbahnhof e achei o que queria, com um preço razoável.
Em seguida, resolvi dar um giro por Munique para me despedir da Alemanha. Peguei o metrô para a Marienplatz. Deu uma espécia de senso de unidade, completude, quando vi a Neues Rathaus de novo. A praça agora estava sem as barraquinhas da feira de Natal e as lojas estavam fechadas. A ficha de que tudo estava acabando começava a cair.
Dali fui à Lan House dos árabes, perto do albergue onde fiquei da primeira vez, e atualizei o blog até os eventos de Berlim. Depois, voltei ao hotel, e me preparei para o último concerto deste Dezembro Louco 2011.
Curioso o fato de o primeiro e o último concertos desse projeto terem sido na mesma sala de concertos: a Herkulesaal, no Residenz. Subindo as escadarias, notei novamente um enorme quadro, todo azul, com uma tonalidade forte e riscado, discretamente, por uma ou outra cor. Fiquei olhando para aquela vastidão e meditei um pouco no tamanho da bênção que foram esses dias.
O programa da noite era bem especial. Repertório barroco no que chamaram Die Grosse Silvestergala, ou A Grande Festa de Ano Novo. O grupo eu não conhecia: Capella Gabetta. E eles faziam um som bem... Gosto do termo que meu amigo Glauco usava antigamente: Bem “barrocão”: instrumentos e técnica de interpretação de época.
Primeiro, um concerto de um compositor italiano que ouvi pela primeira vez: Francesco Durante (1684 – 1755). Muito agradável a sonoridade. Em seguida, um concerto para órgão e orquestra de Handel, o número 13, “O Cuco e o Rouxinol”. Coisa linda de ouvir! Depois, para meu deleite interno, uma cantata de Bach, a BWV 51 “Jauchzet Gott in allen Landen”, ou “Louvem a Deus em Todas as Nações”. É uma cantata para soprano. A cantora, Nuria Rial, que ouvi pela primeira vez, tem um timbre belíssimo. Preciso ir atrás de gravações dela. Após a pausa, o conhecido concerto de Arcangelo Corelli, Opus 6, Número 8 “Fatto per la notte di Natale”, ou “Feito para a noite de Natal”. É muito bom ouvir ao vivo coisa que eu só ouvira em CD!
Em seguida, a peça que me levou a comprar o ingresso: a Suite em lá menor (TWV 55:a2) para flauta doce contralto, cordas e baixo contínuo, de Georg Philipp Telemann, com a flautista Dorothee Oberlinger. Eu já conhecia a obra, mas não a flautista. Eu a havia visto algumas vezes em publicidades na internet. Sabia que ela havia gravado uns dois CDs recentemente pelo selo Deutsche Harmonia Mundi, mas nunca a ouvi tocar. A primeira vez seria ali. E era o meu instrumento!
Gente, que técnica! Que musicalidade essa mulher tem! Não sei se você já teve a oportunidade de ouvir música sendo tocada de um modo que faz você ficar na pontinha da cadeira, com um sorriso no rosto motivado pela maestria da intérprete e que, de repente, te toma o fôlego. Completo entrosamente com a orquestra... Domínio total do instrumento... Puxa, como aplaudi depois da peça! Eu estava muito feliz ali!
Em seguida, a Capella Gabetta tocou o popular Canon, de Pachelbel. E, como última peça no programa, uma ária de Vivaldi, “Zeffiretti che sussurate”, que eu conhecia somente na interpretação de Cecília Bartoli e Il Giardino Armonico, no DVD “Viva Vivaldi”. Na versão que já conhecia, dois violinos dialogavam com a cantora. Aqui, ao vivo, um dos violinos estava a cargo da flautista Dorothee Oberlinger. A princípio pensei: “Será que vai ser coerente essa mudança de instrumentação?” Pois bato na boca hoje até cairem os lábios, os dois! Ficou a coisa mais linda do mundo! A soprano não deixou necessidade nenhuma de comparação com Bartoli, de tão eficiente. E Oberlinger, com sua flauta doce soprano, fazia ecos maravilhosos das notas da “ave cantora”! Não sei como descrever, gente. O primor, o esmero, a fineza, o tato, o bom gosto... Que entrosamento perfeito entre cantora e flautista! Ai, brrrrrrrr...
E o público aplaudiu tanto, que voltaram e tocaram outra ária, de bis, que não estava no programa.
Quando os aplausos cessaram, pus minha “roupa” de tiete e fui aos bastidores, com o encarte de um CD da Oberlinger, que tinha comprado em Berlim, atrás de um autógrafo. Achei que a prática que adquiri indo atrás do autógrafo de John Eliot Gardiner me deixara um pouco mais experiente. Enquanto eu esperava a turba se dissipar para ter acesso aos bastidores, juro que vi Stefan Temmingh, outro flautista famoso, na platéia. Não tive coragem de chegar perto e perguntar: “Ei! Você é...?”, mas achei muito parecido. Aliás, faria sentido ele estar ali naquele momento para prestigiar o concerto de uma colega. Além disso, depois eu soube que ele mora mesmo em Munique. E, se foi ele mesmo, creio que nos encontramos no toilete, onde segurei uma porta para ele passar, ao que ele falou, “Obrigado.” Então, ladies and gentlemen, talvez eu tenha também falado com Stefan Temmingh, de bônus... Vejam só!
Adentrei os bastidores aos poucos e me admirei de não ter sido barrado pelos funcionários da sala de concerto. Notei que umas poucas pessoas adentravam o lugar (o tal suposto Temmingh passou adiante, abrindo alas para mim). Tentei parecer invisível para que não me expulsassem, mas é uma tarefa difícil, se considerar meus 1m90cm e minha reserva adiposa. De repente, avistei Oberlinger a conversar com uma pessoa, e um casal atrás, na “fila”, esperando. Quando o casal começou a conversar com ela, posicionei-me discretamente atrás deles. Chegou minha vez e eu, besta, não sabia o que dizer. “Você tocou muito bem!” “Obrigada!” “Estudo flauta doce no Brasil.” “Ah, eu já toquei em São Paulo.” E expliquei que eu morava no nordeste, enquanto ela, gentilmente, autografava meu encarte de CD. Um doce de pessoa! Pense num concerto perfeito para terminar o Dezembro Louco 2011!
Trecho do excelente CD de Dorothee Oberlinger...
Notem o autógrafo...
Saí da Herkulesaal lentamente, curtindo o encerramento desse sonho realizado. Dei uma última olhada no tal quadro azul enorme e desci os degraus das escadarias belíssimas daquele lugar, agradecendo a Deus por todas as oportunidades que tive.
No quarto de hotel, ainda meio “hipnotizado” por tudo, meu sentimento era o de continuar agradecendo a Deus. Não havia outra coisa a fazer. À meia-noite de ano novo, ouvia os (altíssimos) fogos de artifício do lado de fora e me programava para a maratona do dia seguinte, de volta ao Brasil.
Quero agradecer a todos vocês que leram meu compartilhamento neste blog. Muito obrigado por me fazerem companhia nessa maratona de 16 concertos e tantas aventuras. Seus comentários sempre vinham para completar minha alegria neste projeto. Desejo a todos um ótimo 2012!
Meu agradecimento especialíssimo a Deus, Senhor de toda a minha vida, que me guardou do mal e me deu saúde durante todo esse tempo. A Ele, toda a glória, honra e louvor!
Já estamos rumando para a etapa final deste Dezembro Louco 2011. Berlim é uma cidade muito rica em cultura. Para quem gosta de música e museus, Berlim tem poucos competidores à altura. No dia 28, quarta-feira, visitei um lugar que tinha visitado em 1998 com meu companheiro de viagem, Glauco. Uma igreja que tinha sido atingida em um bombardeio na II Guerra Mundial. Somente a torre sobreviveu. Hoje está em reforma. Em baixo da torre há um memorial. Ao lado dela, não reconstruiram a igreja, que era enorme e esplendorosa em termos arquitetônicos, mas construiram uma nova no mesmo lugar das ruinas da antiga, com arquitetura moderna. Eu mesmo não gostei da capela, mas chequem o vídeo, pois eu pude presenciar algo meio raro: um professor dando aula de órgão para sua aluna!
Aula de órgão ao vivo!
Depois fui a uma exposição chamada "The Story of Berlin". Todo mundo curioso por história, se estiver em Berlim, deve ter essa experiência. Toda a exposição é multimídia. Há quadros, fotos, pinturas, bonecos, filmes, áudio... Só não senti cheiros lá dentro! A exposição também inclui uma visita guiada a um abrigo nuclear que foi construido na década de 70.
Um trecho da caminhada na "The Story of Berlin". Ouçam o som de vidro quebrando enquanto caminho ao lado de uma janela onde foi pintado "Judeu". Prenúncios do holocausto...
À noite fui à Konzerthaus, onde ouvi o concerto para violino de Tchaikovsky. É um dos meus três concertos para violino e orquestra favoritos da época do romantismo. O solista era muito, muito seguro e, de quebra, de "bônus", ouvi novamente a 9a Sinfonia de Beethoven. Algo curiosíssimo aconteceu no último movimento. Um dos senhores que cantava no coral simplesmente caiu. Quando ouvimos, foi só o PÔU! A platéia ficou preocupada, especialmente porque o homem não se levantou mais; ficou sentado. O maestro não parou a música. Quando os aplausos ainda aconteciam, duas pessoas da platéia correram para checar o estado do homem. Imaginei que fossem médicos. Depois, mais um, com uma maleta. Esse devia ser mesmo médico. Alguns da platéia, como eu, ficaram mais tempo até termos a impressão de que o homem estava sem correr perigo. Nesse concerto, bati um papo com uma simpática senhora, que me deu uma dica de loja de CDs e DVDs, em uma enorme livraria na Friedrichstraße. Fui lá no outro dia e fiz uma "feirinha". Imagina um andar todinho de música clássica. Isso fora o outro andar todinho só de partitura. O nome da livraria é Dussmann. Pena que era em euro e o bolso já era :-)
Konzerthaus Berlin (Google Images)...
No dia 29, assisti à Ópera "A Flauta Mágica", de Mozart. Foi a última ópera que Mozart escreveu. Fiquei impressionadíssimo com a produção da Staatsoper. A cortina se ergue, depois da abertura instrumental, e você tem Tamino, o herói, perseguido por três dragões que cospem fogo. Gente, fogo do tipo chama, labareda, fumaça, ok?!!! Colunas egípcias enormes que eu sei que são pintadas em uma tela, mas que, com o jogo de luz, você tem uma impressão 3D. Impressionante! Abaixo algumas figuras do site da Staatsoper, pois nao pude levar a camera. Clique aqui se quiser ver o trailer da producao. Quando a página abrir, cliquem em "Videotrailer zu DIE ZAUBERFLÖTE".
No dia 30, fiz um passeio breve em vários lugares. Na Potsdamplatz, vi pedaços do antigo Muro de Berlim. Passei na frente do Portão de Brandemburgo e do Parlamento, mas este estava fechado. Lá tem uma cúpula linda para você subir e ter uma visão linda da cidade, mas tem que agendar e eu marquei bobeira :-( Perto dali também fica o Memorial do Holocausto. Várias pedras (lápides?) que nos lembram da abominação que foi feita contra os judeus.
Atrás de mim, um pedaço do "Muro"...
Atrás de mim, o Portão de Brandemburgo (e muitos turistas)...
O Memorial do Holocausto...
No fim da tarde, visitei outro museu imperdível, o Jüdisches Museum (Museu Judeu). Fiquei até angustiado, porque eu já estava cansado e tem muuuuuita coisa para ver. Só para vocês sentirem o drama, veja essa foto (Google de novo... Nada de helicópteros!):
Vejam os dois prédios do museu. À esquerda, o prédio antigo; à direita, o novo, arquitetura arrojadíssima, dentro e fora do prédio.
E, para finalizar minha estadia em Berlim, visitei o Sony Center, perto da Potsdamplatz. Um centro com restaurantes, cinemas e uma loja da Sony. Olha só a minha cara de bobo no meio de tanta tecnologia!
Sony Center...
E isso foi Berlim! Na manhã do dia 31 de dezembro de 2011, peguei o trem Berlim-Munique, já cansado da peregrinação. A duração de umas duas semanas para essa loucura foi uma escolha perfeita! Saio dela bem satisfeito e com um gostinho de "tenho que voltar outro dia"...
Um cearense no meio da neve...
Agora estou me preparando para o último concerto. Vai ser importante porque vai ter um concerto para flauta doce e orquestra (o meu instrumento)! Escreverei o último post de casa, após meu retorno. O pessoal da igreja, conto com suas orações.
Arre! É, é isso mesmo... Puxa, como foi difícil encontrar acesso à internet com USB EM BERLIM! (Se fosse ao menos em Quixeré, mas em Berlim!) No albergue e na estação de trem apenas acessa-se a rede, mas não posso alimentar o blog com fotos e vídeos. Felizmente, uns caras dentro de uma praça de alimentação na estação de trem perto do albergue me indicaram um local e aqui estou! Bem, como prometi, vou agora contar o capítulo Leipzig desse Dezembro Louco 2011.
Leipzig entrou no projeto como uma fase importantíssima da viagem! Foi a última cidade em que Bach viveu. Ele trabalhou na Igreja de São Tomás (Thomaskirche) de 1723 a 1750, quando morreu. O posto dele era o de Thomaskantor. Em poucas palavras, ele era o encarregado pela música da igreja. Dentre as suas várias responsabilidades, estava a de trabalhar com o coral de garotos, o Thomanerchor. Em 2012, o conjunto Thomaskirche, Thomanerchor e Thomaschule (a escola) completa nada menos que 800 anos. Obviamente, nenhum leitor desse blog pensou que os meninos do Thomanerchor de hoje são os mesmos de 1212, mas é impressionante estar em contato com uma "instituição" tão antiga e que persiste ainda até hoje.
Uma foto recente dos "meninos"... (Permitam-me a intimidade, agora que os ouvi ao vivo.) Não vou postar a minha foto, pois saiu muito borrada.
Pois bem, cheguei de Praga e deixei minha bagagem no albergue em Leipzig. Fui para a Thomaskirche pegar a fila para um evento chamado Motette, ou Moteto. Só que este seria muito especial, no dia 24 de dezembro, o Weihnachtsmotette, ou Moteto de Natal. Até então, havia caído pingos de chuva inofensivos em outras cidades, que não me atrapalharam, mas nesta véspara de Natal, eu tinha de estar na fila pelo menos uma hora antes do evento para poder conseguir um lugar bom e estava chovendo um pouco mais grosso. Pensei comigo: "Puxa, não gripei até agora. Será que vai ser desse vez?" O site da Thomaskirche dizia que as portas seriam abertas 45 minutos antes do evento e eu via a fila começando a se alongar e a água caindo. Isso sem falar do frio! Não entrei logo na fila; fiquei do outro lado da rua, onde perguntei a um simpático senhor alemão de meia idade se ali era ali mesmo. Depois de confirmar que eu estava no lugar certo na hora certa, Heinrich e eu começamos a conversar sobre música. Quando ele disse que morava em Hamburgo, eu logo falei: "...onde nasceu Johannes Brahms". Ele ficou impressionado com o que eu sabia de alguns assuntos relacionados à música alemã.
De repente, a fila começou a se mover e Heinrich, pasmem, me ofereceu seu guarda-chuva! Ele tinha me dito que seria impossível comprar um, pois as lojas estariam fechadas nos próximos dias. (Lá, o feriado natalino vai até o dia 26) "Minha esposa está na fila e ela tem outro." Eu discretamente tentei confirmar se aquilo estava acontecendo: "A gente se encontra lá dentro e eu lhe devolvo." "Não. Fique com ele. Você vai precisar. Além disso, é Natal!"
Para mim, esse pequeno gesto foi muito significativo. Obviamente, agradeci ao homem, mas fiquei tão agradecido a Deus por isso! Deus sabia que eu iria precisar de um guarda-chuva e providenciou um mesmo com as lojas todas fechadas, vejam só! E eu precisei mesmo nos outros dias. Leipzig estava bem chuvosa no Natal.
Os "meninos" iriam cantar durante o culto, e seriam acompanhados pelo organista da igreja, Ullrich Böhme. Quem iria regê-los seria o Thomaskantor atual, Georg Christoph Biller, o cara que tem o cargo de Bach hoje. Eu já conhecia todo esse pessoal por DVDs, mas, gente, quando eu vi o Böhme pra lá e pra cá, dando os últimos ajustes antes do evento, quando o Biller passou, assim, no corredor, na minha frente, e, principalmente, quando os meninos cantaram, eu pensei "Pois não é que esse pessoal existe mesmo, de verdade!"
Como era de se prever, a igreja estava lotada. Era interessante: A maioria dos bancos ficavam de costas para a galeria oeste do coral, abaixo de um dos órgãos da igreja, o Sauer-Organ, construido em 1889 e recentemente reformado em 2005. Outros ficavam uns de frente para os outros, na região do púlpito. Imagino que isso demonstre uma preocupação com o foco certo na igreja: a pregação. Fiquei em uma parte da igreja que, depois fiquei sabendo, era designada para o coral em eventos mais cotidianos, na parte leste do prédio. Sentei-me no chão, em degraus. Estava muito cansado e o lugar não tinha conforto, mas eu ficava em direção oposta à dos músicos, o que foi bom para minha visualização. Além disso, como se todo o evento não fosse suficiente para me manter acordado, ali, diante de mim, no chão, vi que estava o túmulo de Johann Sebastian Bach. Quando percebi, fiquei meio assim...
Isso foi o que consegui gravar do Thomanerchor, no Weihnachtsmotette. Notem também a linda arquitetura da igreja.
Então, como vocês puderam ver no vídeo, assisti aos "meninos" cantarem, de um lugar bem especial. Acho que posso dizer que, em vários aspectos, nunca me senti tão perto de Bach. Que momento especial aquele foi para mim!
Leipzig estava uma verdadeira cidade fantasma. Todos deviam estar em casa com suas famílias para a noite de Natal. Voltei para o albergue, tomei um bom banho quente e jantei uma lasanha de salmão, com suco de maçã e um cookie gigante de chocolate. Essa foi minha ceia de Natal. Peguei o telefone pela primeira vez na viagem e liguei para minha mãe. Também liguei para agradecer ao Prof. Elder, meu colega no IBEU-CE, que escrevera uma mensagem para eu ler somente na noite de Natal. Depois, capotei na cama após conversar um pouco com meu companheiro de quarto alemão.
No outro dia, 25 de dezembro, mais Bach! Acordei bem cedo porque queria assistir ao culto de Natal matutino na Thomaskirche, que conteria uma apresentação da primeira cantata do Oratório de Natal, de Bach (que assisti na íntegra em Munique, lembram?). Logo que cheguei, um simpático senhor da igreja (talvez um diácono) me deu a sugestão de assistir lá de cima mesmo, para ter uma visão legal. Não poderia ter sentado em um lugar melhor. Fiquei na lateral esquerda de quem está de frente para a galeria do coral, oeste, onde também ficava a orquestra. Bastava eu torcer meu percoço um pouco para a esquerda e eu os veria bem. Atrás de mim, a "Janela Bach", onde há um vitral colorido com o rosto de Bach. Na minha frente, o novo Órgão Bach, onde o organista da Thomaskirche tocou durante o culto. À minha esquerda, dava para ver o Thomanerchor, o outro órgão (Sauer), o regente e a Orquestra Gewandhaus de Leipzig.
Vocês precisavam ver. O culto começa com um toque de sino. Todos ficam de pé. O órgão começa a tocar e os "meninos" passam pela congregação, em procissão até o local do coro, área leste, onde param e começam a cantar. Como eu diria no Ceará, "Me arrupiei todinho!". Aliás, me tremi várias vezes e quase as lágrimas rolam. Isso porque eu já tenho um bom arquivo de palavras soltas em alemão, o que, acho que milagrosamente, me permitiu acompanhar o culto, entendendo boa parte da mensagem nos hinos, nos comentários entre um e outro cântico, e até na pregação, pois o pastor falava bem devagar. Ajudou-me muito um livrinho que recebi com a ordem detalhada do culto, incluindo partituras de hinos, responsoriais, passagens bíblicas, etc.
Os meninos então dão a volta e se reposicionam junto com a orquestra. O pastor dá seguimento ao culto. Meditamos no nascimento de Cristo. A cantata do Oratório de Natal de Bach tinha tudo a ver. Preciso postá-la na íntegra no meu outro blog! Apesar de ter sido excelente a apresentação em Munique, aqui na Thomaskirche era algo especial. Isso sem falar que o timbre dos meninos dá um toque especial em comparação com um coral de adultos. Abaixo posto um trechinho da obra, de um CD que comprei por lá. A gravação é de 2009, então acho que vários dos meninos na gravação devem ter sido os mesmos que ouvi. A orquestra e o regente são os mesmos.
Aqui você tem uma idéia do que eu ouvi naquele dia!
Foi também muito bom acompanhar o culto todo. Havia hinos antiquíssimos! No final, fiquei mais um tempo na igreja e filmei um pouco o Ullrich Böhme tocando no Sauer-Organ. Depois tive que parar de usar a câmera, pois uma senhora me mostrou que havia um culto acontecendo. Eu não havia percebido porque quase todos tinham saído da igreja. Talvez tenha sido um batizado; não tenho certeza.
Ullrich Böhme tocando o órgão central da Thomaskirche...
Depois dei mais uma volta na cidade. Visitei uma outra igreja onde Bach também ajudava, a Nikolaikirche. Menor que a Thomaskirche e com um estilo bem diferente.
Eu já tinha visto isso antes e, quando estive na Finlândia, em 2008, me explicaram que esses números são os números dos hinos que serão cantados no culto. Aqui, prepara-se o próximo culto na Nikolaikirche.
Menção a Bach na Nikolaikirche, logo na entrada...
Mais tarde haveria dois concertos para eu ir. Às 17h fui a um concerto na sala pequena da Gewandhaus, chamada de "Sala Mendelssohn". Ouvi a Sinfonia No. 29 e o Concerto para Piano e Orquestra KV 414, de Mozart. Houve também "Souvenir de Florença", de Tchaikovsky. Às 19h30, na sala principal, uma orquestra sinfônica e um enorme coro entoaram o "Oratório Bizantino", de um compositor chamado Paul Constantinescu, da Romênia, que viveu no século XX. Muito bonito, apesar de eu ter dificuldade de gostar de música mais moderna. Cantaram em alemão e eu pude reconhecer que era o texto bíblico sobre o nascimento de Cristo, pois a letra era, muitas vezes, semelhante à do Oratório de Natal, de Bach. Na segunda parte do programa, obras natalinas de várias partes do mundo. Destaque para a lindíssima "O Magnum Mysterium", de Morten Lauridsen, compositor que eu não conhecia. Essa música é linda de morrer. Procurem no YouTube, que eu fiquei com os cabelos da alma em pé com o coral a capella! Outro destaque ficou com um outro compositor que transformou "Santa Claus is coming to Town" em uma fuga ao estilo de Bach. Pode? Me convenceu!
Gewandhaus Leipzig vista de fora. Notem como o tempo estava chuvoso.
Uma foto (Google) da Grande Sala para vocês terem uma noção de como é dentro.
No dia 26 de dezembro, ainda feriado (o segundo dia de Natal alemão), fui à Thomaskirche uma terceira vez para ver a segunda cantata do Oratório de Natal, de Bach. Não vi o resto do culto. Fui ao Museu Bach, uma experiência interessantíssima para os aficcionados. No museu, há uma série de curiosidades e também você pode sentar numa sala com uma touchscreen e fones de ouvido para ouvir gravações. Na saída, você pode passar na lojinha e comprar souvenirs. Então, se ano que vem alguém me ver com uma gravata cheia de notas musicais em uma partitura com a caligrafia de Bach, não estranhe, por favor.
À tarde, visitei a Casa de Mendelssohn. Felix Mendelssohn-Bartholdy também morou em Leipzig. Ele, como Bach, tem um vitral com sua face na Thomaskirche (Lutero também tem seu vitral.). Foi muito legal dar um passeio na casa deste compositor tão criativo! (Para ouvir parte de uma Sinfonia de Mendelssohn em meu outro blog, clique aqui.)
Estátua de Menselssohn, próximo à Thomaskirche
Mendelssohn-Haus, em Leipzig
Mendelssohn foi o responsável por "reavivar" Bach após sua morte, em 1750. Em 1829, Mendelssohn regeu a Paixão Segundo Mateus, em Berlim. Abaixo uma seqüência de fotos que tirei no museu de Mendelssohn, com um detalhe interessante.
Era em um escritório como esse que Mendelssohn trabalhava.
Consegue perceber o detalhe?
E agora, se eu ampliar?
Ali, no local em que Mendelssohnn dava forma à sua criatividade, a "presença" de Bach.
À noite, os dois últimos concertos em Leipzig, na Grande Sala da Gewandhaus. Às 17h, um concerto de órgão solo, com o órgão da sala de concertos. Espetacular! Às 20h, um concerto especial de coral a capella: o Don Kosaken, o coro do Exército Vermelho, da antiga União Soviética. A sonoridade era impressionante. Consegui identificar desde baixo profundo (aquele vozeirão ultra, ultra baixo) até um soprano... E todos homens! Você pode ver a foto deles que tirei, abaixo, mas clique aqui para ir ao YouTube e ouvir um pouco do som deles.
Concerto de órgão. Vocês não imaginam os diversos tipos de som que saem daí!
Don Kosaken Chor
E assim termina meu Natal em Leipzig. Na outra manhã, vi que existem mesmo habitantes naquela cidade. As lojas abriram e o povo foi às ruas. Peguei o trem para Berlim no fim da tarde, mas esse é o próximo capítulo.
Estou em Leipzig me preparando para a fase final deste Dezembro Louco 2011. Passei aqui apenas para dizer que, finalmente, inseri fotos e vídeos nos dois últimos posts. Vão lá e aproveitem...
Quando eu chegar em Berlim, vou sentar com calma e postar sobre meu Natal em Leipzig, que foi uma coisa inesquecível.
Bem, deixei vocês no começo de minha aventura em Praga. Naquela noite do jovem que me deu uma aula de prestatividade, cheguei morto e capotei só o cadáver em cima da cama. Desculpem se acharam a liguagem exagerada, mas juro de pé junto que não é exagero, não. No outro dia, acabei acordando um pouco tarde e já estava ficando meio frustrado com Praga. Primeiro, eu "queimei" um dia de turismo dormindo à tarde quando eu cheguei. Segundo, já estava perdendo tempo com o atraso e não tinha aindo feito um plano detalhado do que eu faria na manhã de turismo, antes do concerto da tarde. Decidi que ia ver o Castelo de Praga.
Andar de bonde em Praga é uma coisa de filme da Disney! A cidade é muito linda, gostosa de se ver. As ruas todas nas pedras arredondadas, os prédios antigos... e os prédios modernos também. O rio que corta a cidade e as pontes que cortam os rios já são suficientes para deixar você olhando e se perdendo no tempo.
Já quase chegando na praça da "cidade velha"...
Mas nem só de coisas positivas se constitui uma viagem, não é mesmo? Assim que entrei no castelo, ouvi nossa língua brasileira sendo falada por alguém que disse que a Catedral de São Vito, um dos pontos principais do castelo, estava fechada. Pouco tempo depois percebi que quase nada do castelo estava acessível. Horas mais tarde descobri que foi devido à morte de um ex-presidente da República Tcheca, Václav Havel, no úlitmo dia 18. Ele é considerado herói pelo povo por ter ajudado a derrubar o regime comunista, em 1989. A nação estava de luto e algumas atrações turísticas sofreram com isso. Eu fiquei meio frustrado, mas não havia nada o que fazer. Tinha mesmo que respeitar os meus anfitriões.
Castelo de Praga (imagem do Google - Claro! Não paguei um helicóptero para tirar essa foto.)
Catedral de St. Vitus (A foto é minha...)
Vista de Praga que tive lá de cima do castelo.
Ainda de cima do Castelo... Destaque para o prédio à esquerda da ponte: O Teatro Nacional, para onde eu iria pouco tempo depois.
Música na descida do Castelo de Praga...
Na Ponte Carlos, cartão postal da cidade, mais música...
À tarde, fui ao Teatro Nacional. A primeira coisa que choca é a beleza desse teatro. Cliquem aqui para dar uma olhadinha. Vai abrir uma janela em inglês. Vocês devem ir ao fim da página e clicar em "View from the audience's perspective". Vai aparecer outra tela, talvez em tcheco. Escolham um dos setores do teatro e esperem carregar. Depois usem o mouse para "passear" pelo lugar.
A poucos minutos do balé começar...
Uma panorâmica do teatro...
Viram que esplendor! Agora vocês vão saber quanto eu paguei para estar lá assistindo ao balé "O Quebra-Nozes", de Tchaikovsky: Mais ou menos onze reais! É que, quando fui comprar o ingresso, a sala estava lotada e sobraram pouquíssimos assentos. O que escolhi custava 100 coroas tchecas, lá no alto, perto dos refletores. Passei o espetáculo debruçado o tempo todo, mas por esse preço eu assisto até da bombonière, se der para ver alguma coisa...
Esta era minha visão se eu olhasse para baixo.
O teatro estava repleto de crianças. Aliás, havia gente de todas as idades. Fiquei pensando o tempo todo nas crianças de minha terra, desejando que elas tivessem oportunidade de ir a uma sala de concertos, ou a um balé. Ai, ai, ai...
Foi tudo muito lindo! É o segundo balé que assisto. Vi o Lago dos Cisnes em 1998 em Viena, na primeira viagem. O Quebra-Nozes tem uma música bem gostosa e a produção aqui estava um primor. Abaixo, uns trechinhos que trouxe para vocês:
O início, com direito a chegada do maestro e tudo... O homem que chega pela cortina após os aplausos pediu um minuto de silêncio em memória do falecido ex-presidente antes do balé começar.
O começo da música, para ver se você reconhece...
E um pouquinho de "pas de deux"...
Agora, com um pouco mais de gente no palco...
E como eu tinha dito a vocês, ia ser um dia de dois concertos. Bem, ia... Tinha programado ir ao Rudolfinum, na Sala Dvořák, para o Concerto para Piano e Orquestra No. 5 "Imperador", de Beethoven, meu concerto para piano e orquestra favorito. Pois nao é que tinha sido cancelado! Quando eu entrei, vi o cartaz do concerto com duas tiras brancas escritas "CANCELADO": em inglês e em tcheco. Entrei somente para receber de uma recepcionista insossa o dinheiro de volta. Imaginem a cara de "Como assim?" que eu fiz. Tive vontade de gritar, espernear... Fiquei sabendo depois que, devido à morte do ex-presidente, vários espetáculos tinham sido cancelados naquela noite.
Frustrado, na frente do Rudolfinum, onde fica a Sala Dvořák.
Sem comentários :-(
No outro dia, ontem, fiz um tour chamado "Seguindo as pegadas de Mozart". Praga amava Mozart! Com as devidas diferenças, Mozart era recebido como o Michael Jackson quando ia a Praga. Pois não é que montaram uma excursão por Praga através de lugares onde ele se apresentou! Foi uma coisa muito interessante! Eu fui o único turista que fez o tour!!! Fomos só eu e minha guia, chamada Renata. Puxa, como ela riu quando eu disse meu nome! Foi muito bom porque ela, uma senhora simpática, me ensinou várias coisas não só sobre Mozart, mas também sobre Dvořák, sobre Praga, enfim, até sobre política tcheca.
Na frente do teatro onde ocorreu a estréia da ópera Don Giovanni, em 1787...
Do lado do teatro, escultura do Comendador, personagem da ópera Don Giovanni...
Mozart tocou neste piano quando esteve em Praga.
Renato e a simpática guia tcheca, Renata...
Para terminar o dia, um concerto na Sala Smetana, que, junto com Dvořák, foi um importante compositor Tcheco. A Sala era toda decorada em estilo Art Noveau, e um octeto de cordas (pelo que ouvi, parecia um quarteto dobrado) nos brindou com obras de Mozart, Vivaldi, Brahms, Dvořák e outros.
Estou em Leipzig, de volta à Alemanha, e, hoje, quando cheguei, tive uma experiência singela e EXTRAORDINÁRIA ao mesmo tempo, mas só vou contá-la depois. Vou adiantar que tem a ver com Bach, a igreja onde ele trabalhou até o fim de sua vida, e um guarda-chuva.
São quase nove da noite aqui e, ou eu tomo coragem para ir a um culto de Natal na Thomaskirche ou na Nikolaikirche, ou eu fico no quarto de albergue com meu novo amigo alemão. Tudo nesta cidade, ou quase tudo, fica fechado até segunda (inclusive segunda, quer dizer) devido ao feriado do Natal. Felizmente, tenho concertos para assistir.
Para vocês do Brasil, não desejo um Feliz Natal, como é comum. Por quê? Cliquem aqui e leiam essa excelente meditação natalina.
Estou escrevendo de Praga, na Republica Tcheca. Isso quer dizer que as oracoes dos irmaos foram eficazes e que eu cheguei bem. Mas nao foi tranquilo. Eu estava absurdamente cansado no fim da terca-feira e ainda tive que lavar minhas roupas e esperar uma hora e meia ate que a maquina terminasse de secar tudo. Depois que eu empacotei mala e mochila ja eram duas da manha e eu tinha que acordar as cinco para pegar o trem as seis e catorze (atencao, e seis e catorze do tipo 6:14 em ponto). Quando entrei no trem, nao encontrei meu passaporte. Vasculhei bolsos e nada. Abri minha mala dentro do trem, e nada. Entao, encontrei num bolso do casaco, mas so depois que o trem ja tinha comecado a andar e minha alma ter saido e entrado do corpo umas duas ou tres vezes. Ufa...
Ja deu para notar que aqui em Praga o computador eh ainda mais leleh que o da Alemanha, nao deu? Alem do mais, essa lingua tem mais acentos que nosso portugues. So nao consigo achar no teclado os acentos certos para escrever. Ai, ai, ai... E eu ja tinha me acostumado... Enfim, vai ficar assim mesmo. Eh ateh uma especie de lembranca, nao eh mesmo?
Quero compartilhar com voces o dia de ontem. Adivinhem para onde eu inventei de ir pela manha? Para Dachau, que foi campo de concentracao nazista na Segunda Guerra. Bem, nao e aquele tipo de passeio que voce sai e diz - Puxa, como foi legal - Foi educativo, isso sim.
Essa entrada eu só tinha visto em filmes. É diferente quando você está lá. Uma tradução para "ARBEIT MACHT FREI" pode ser "Pelo trabalho, se ganha a liberdade." Mas a verdade nós já sabemos...
Estava nevando bastante e o frio estava bem, bem, bem, bem... Voces entenderam. O guia ia explicando uma serie de coisas sobre o que aconteceu ali naquele tempo e eu ficava imaginando o frio que os prisioneiros deviam sentir naquele patio onde estavamos. Eu estava com frio com todo aquele casaco e roupas e roupas, mas imagine os prisioneiros, com aqueles trapos finos!
No lugar, hoje existe um memorial, com replicas das cabanas onde os prisioneiros ficavam. Restam tambem as salas onde eram feitos os registros de quem entrava. Visitei tambem camaras de gas e dois crematorios. Na decada de sessenta, fizeram tres locais de oracao. Uma capela catolica, uma protestante e um monumento judeu. Ao redor, ha esculturas e placas dando enfase na ideia de - nunca mais - e de - tudo isso tem de ser lembrado para nao ser esquecido.
Em cada retângulo desses, onde hoje há apenas uma placa com um número, ficava uma cabana com prisioneiros. Note, distante, uma torre onde ficavam guardas prontos para atirar em quem tentasse fugir.
Aqui, um vídeo que fiz na mesma área...
Cheguei em Munique por volta das 15h e escrevi o post passado. Depois, fui a um concerto que eu nao tinha programado. Um concerto de orgao em uma igreja enorme no centro de Munique. O horario do concerto nao ia chocar com o da 9a Sinfonia de Beethoven, entao resolvi ir. Nao sei muito bem se vou conseguir descrever o som. Voces sabiam que o orgao eh chamado de - O Rei dos Instrumentos? Pois ontem tive a oportunidade de entender bem o porque.
Entrei na igreja exatamente na hora em que o concerto comecou. Ninguem ve o organista, pois ele esta escondido la em cima na galeria do orgao. Todos se sentam nos bancos, de costas para o orgao, e a acustica eh um negocio impressionante. O orgao faz sons que eu nem sabia que fazia. O repertorio foi todo de musicas que eu nao conhecia. Tudo seculo 19 e 20 e tive a impressao que os compositores eram franceses. As obras eram natalinas. Reconheci melodias de hinos tradicionais embutidas no meio dos arranjos. Quando o organista fazia sons suaves, minha alma as vezes se elevava em oracao, como que puxada por anjos. Quando ele usava sons graves, com aqueles tubos enormes, a coisa que me vinha a mente era a gloria de Deus. Toda a igreja tremia com os fortissimos graves e, pondo a mao no banco, notava que ele tremia um pouco. Eh uma experiencia muito especial!
Um pequeno video que fiz na Frauenkirche dias antes do tal concerto. Notem o orgao, majestoso, no centro da galeria superior. Percebam os tubos gigantescos nas extremidades. Isso faz um sonzao!
Sai da igreja e fui para a Gasteig de novo para o concerto. No programa, a 1a e a 9a Sinfonias de Beethoven. A orquestra era a Sinfonica de Londres, convidada, bem como o coral The Monteverdi Choir. Na regencia, John Eliot Gardiner.
Para voces, o nome desse cara deve ser apenas mais um nome de um maestro ingles que o Renato aprecia, mas para quem conhece o trabalho dele, sabe o peso que esse cara tem. Alias, esse concerto com esse maestro e com esse coral tambem determinou minha vinda por Munique. Ele eh o mesmo regente nos links que disponibilizei no outro post. Quem quiser dar uma conferida, clica aqui.
Perfeicao... Tudo perfeito... Flawless... A primeira sinfonia ficou muito charmosa. A nona ficou magnifica! Conseguiram tirar da partitura coisas que eu nem tinha percebido antes. E eh que ja faz um tempinho que escuto a nona, em diversas interpretacoes... E o coral... Gente, o que e aquilo? Havia uns 36 coristas, que contei. O som que eles fizeram... Coisa de louco! (Olha ai a loucura de novo...) Tem uma coisa de especial com esse grupo. Gardiner deve bater neles, de chicote, so pode... Estavam magnificos... A plateia aplaudiu muito esse povo todo. Nao deixem de dar uma olhada no link acima para ouvi-los em acao. Clique aqui se voce quiser ler um pequeno paragrafo sobre eles em portugues e clique aqui para dar uma olhada no site deles.
E nao eh que este que vos fala foi dar uma de tiete... Fui atras do homem para pedir um autografo. Em 1998, fiz isso com um famosissimo maestro, mesmo quilate, e o homem (Nikolaus Harnoncourt) recebeu a mim e a meu amigo Glauco com tranquilidade e, pasmem, humildade. Nao tinha a minima ideia nem se eu ia conseguir falar com o Gardiner, nem se ele ia colocar os cachorros (pastores alemaes?) pra cima de mim. Bem, sei que estou me revelando aqui um pouco como uma adolescentezinha fa de um astro de rock, mas tento agora aliviar essa carga negativa compartilhando com voces que eu estava disposto a nao esperar tanto tanto tanto... Pois bem, peguei meu casaco e fiquei dentro do predio alguns minutos, mas nao descobri acesso ao camarim, como em 1998 em Berlim. Sai do predio e vi um caminhao com o logotipo LSO, da Sinfonica de Londres e notei que um ou dois musicos sairam por uma porta. Depois de uns dez ou quinze minutos, estava ali, na minha frente, Sir (sim, o cara e "assim" com a Rainha)... Sir John Eliot Gardiner, sua esposa Isabella, e talvez o motorista.
Aih o besta aqui se tremeu todinho - Sir John, sinto muito lhe incomodar. Pode me dar um autografo ? - Ele replicou - Tem que ser rapido, porque eu nao quero ficar com frio. - E foi que notei que eu estava do lado de fora e ele, com a idade que tem, devia estar bem mais preocupado que eu em evitar resfriados. Dei-lhe o encarte de um DVD meu e ele tentou escrever, com minha caneta, que, Lei de Murphy funcionando, falhou um pouco. Enquanto isso, tentei resumir em dez ou quinze segundos a historia de minha viagem. Meu ingles nessa hora foi para o beleleu... Vou comecar do B1 semestre que vem, viu, Borges... Pense... E o coitado estava mesmo preocupado com o frio. Sua esposa parece que estava me ouvindo enquanto o John (Vou chama-lo assim, agora que sou intimo, nao e?) tentava assinar o papel. Ele me entregou, fez um gesto com os olhos que demonstrou um misto entre - quero dar atencao - e -quero sair daqui - entregou-me o papel, deu um sorriso e se foi. Isabella me abriu um sorriso mais warm e foram-se apos eu desejar-lhes tudo de bom. Uau, isso e que e Dezembro Louco 2011...
Encarte do meu DVD do Oratorio de Natal regido pelo Gardiner.
No circulo, o autografo dele, de cabeca para baixo... (Clique para ver o detalhe do autografo.)
(Adicionado Posteriormente) - Quase me esquecia de mencionar algo singular no "submundo" de Munique. Após o primeiro concerto, o Messias, de Handel, ao sair da Herkulessaal, fui tomado de surpresa pelo familiar som de Bach. Era uma peça para órgão, mas não havia órgão nenhum no meio da rua. Eles costumam ficar bem comportados dentro das igrejas. Mas ali, na saída da sala de concertos, um som me surpreendeu! Seria algum discípulo de Luiz Gonzaga tocando Bach em plena noite de Munique? Achei a hipótese meio improvável. Muito bem tocada a peça difícil e também muito bem transposta para aquele instrumento, que, fiquei sabendo depois, era um Bayan, parente russo do acordeon. Me deu uma pena foi perceber que, na frente do homem, tinha um lugar para se pôr moedas. Pensei "Como pode um músico com este talento ficar na noite fria se submetendo a algo assim?" Acho que deixei algumas moedas e fiquei um ou dois minutos antes de partir. Dois dias depois, numa manhã gelada, ao procurar onde ficava a próxima sala de concertos, o mesmo músico, instalado agora no metrô, continuava a trabalhar. Desta vez, fiquei ainda mais impressionado e dei os 10 euros no CD dele. Fingi que ia embora e parei a uma distância em que ele não me via, continuando a ouvi-lo escondido, deleitando-me no Bach que me impressiona ainda hoje, quando ouço seu CD. Se não me engano, vi-o ainda uma terceira vez, ao fim de outro concerto. Foi quando entendi sua estratégia de trabalho noturno. Seu nome é Dmitry Menshikov. Deve ser russo ou descendente e abaixo compartilho um trechinho de seu trabalho.
Trecho de uma fuga em sol menor, da obra de J. S. Bach,
interpretada por Dmitry Menshikov, no Bayan...
Como ja falei, cheguei em Praga muuuuito cansado. Foi tanto que, apesar do esforco que fiz para chegar cedo cedo e aproveitar a tarde, capotei e perdi um dia de turismo. Hoje a noite sai para jantar e para por o blog em dia. O Germano me perguntou como estava minha convivencia com os Germanos. Acho que os alemaes sao muito solicitos, em sua maioria. Tive muita ajuda deles em todo o lugar. Isso nao aconteceu aqui em Praga ate agora. Para falar a verdade, varios que encontrei aqui sao ate meio antipaticos e poucos falam ingles, tornando as coisas, digamos, mais desafiadoras. Alias, a lingua deles e um negocio que nao da para entender quase nada. Eu nao sei Alemao, mas muita coisa do ingles me ajuda a deduzir. Em Tcheco, nada disso... Mas ha os que estao dispostos a ajudar. E alem do mais, tenho Deus me protegendo e me guiando, o que me deixa tranquilo.
Aqui, um raríssimo exemplo em que essa lingua louca nao deu problema... A imagem tambem ajudou. Eh soh ler 'pezim' (pezinho) e 'zóna' eh zona... Zona de pedestres; aqui nao passa carro! Viu minha fluencia em tcheco!
Aqui em Praga programei tres concertos. O objetivo era conhecer tres das mais importantes salas de concertos daqui. Amanha tem o bale Quebra Nozes no Teatro Nacional a tarde e o Concerto para Piano e Orquestra 5 - Imperador - de Beethoven, na sala Dvorak. Depois de amanha tem um concerto na sala Smetana.
Vamos combinar assim: Prometo que quando voltar para a Alemanha, nao so atualizo os compartilhamentos, como coloco fotos neste post. Sendo assim, nos encontramos, provavelmente, no dia 24, vespara de Natal, em Leipzig, cidade onde Bach morreu.
Abraco a todos e continuem escrevendo seus comentarios.
Abraco, Renato
P.S.: Bato na boca. E com gosto... Realmente, minha primeira impressao dos Tchecos nao foi das melhores. Ate a mulher no guiche de informacoes de Praga foi meio Seu Lunga, isso sem falar numa mal educada vendedora em uma loja. Mas foi so fechar essa postagem, que encontrei duas pessoas que foram bem simpaticas. Uma era a propria recepcionista da biblioteca-restaurante-cybercafe, que bateu um papo legal comigo. A senhora morou quase a vida toda em Nova York, mas eh daqui. O outro, eu precisava escrever swobre ele para aliviar meu julgamento dos Tchecos. Um rapaz, um pouco mais jovem que eu, na parada de bondes saiu da parada dele para ir ate outra proxima SOMENTE para me dar informacoes mais precisas. Quando pensei que ele tinha dito tudo, nao eh que o cara foi me ensinar a ler o sistema de informacoes sobre os bondes, que eh meio complicadinho. Falava devagar, num ingles que, segundo ele, era pouco. Deu-me todos os detalhes, repetiu tudo com muita calma, uma ou duas vezes. Quando ele disse - Vou levar voce ate sua parada - eu disse que nao queria incomodar. Ele falou - Voce nao me incomoda, pois eu ja passei por isso quando eu estava em outro pais e sei como e dificil. Muito gentil mesmo o rapaz... Pois bem, com essa, os Tchecos limparam a barra. Espero que mais desses aparecam.